O mestre em Desenho Industrial e empreendedor Délio Canabrava sabia o que queria. Para montar o restaurante caseiro e rústico, legitimamente italiano, embarcou para a Itália com uma mochila, fôlego e apetite numa viagem de 30 dias cruzando o país de trem do Norte ao Sul. Tudo para buscar inspiração e receitas.
Ninguém da família havia nascido lá, relação mesmo veio com a Renata, esposa Italiana e das tias e avôs que casaram com descendentes . Foram as frequentes macarronadas, lasanhas e nhoques e a conversa em torno da mesa que marcaram o estômago e o coração e fizeram nascer o sonho. Outra explicação para ele, cuja família vem de Minas Gerais, é que o mineiro tem muito de italiano quando se trata de comer bem e receber amigos, no caso dele, agora, também clientes. Canabrava dividiu as aspirações com a Renata Ferian desde o tempo em que se conheceram na Inglaterra, na temporada de estudos, lavando panelas para custear a experiência. Tudo com a ajuda do acaso e do cupido. Primeiro virou cozinheiro, depois a união fez a família aumentar, seja nos negócios ou com a vinda de três filhos. Hoje, o casal tem mais dois estabelecimentos, além da cantina.
A chamada cucina casalinga, autêntica e afetiva, mote da Cantina do Délio, é mesmo a cara do dono, sempre pronto para se envolver em causas que ache justas e necessárias: como a da sustentabilidade ou o apoio aos cozinheiros locais. Essa é a raiz de tudo. Sabe quanto vale um apoio, como o que recebeu do amigo Beto Batata. Ele também inspirou a montagem do restaurante, que ocupa uma casa centenária de madeira, uma das últimas da região, aproveitando ou comprando o que precisava em loja de móveis usados, isso muito antes de ser uma tendência sustentável.
Crescer e viver em sítio, “um tempo bem diferente”, diz, deu a noção de responsabilidade em tudo o que faz. “Nosso negócio não pode prejudicar o meio ambiente ou as pessoas envolvidas nele”, reforça. Outra iniciativa, a de Proteção à Natureza, da Fundação Grupo Boticário, com o chef Celso Freire, despertou mais consciência. Ele lembra das dificuldades na infância, sabia que era preciso não desperdiçar nada e tirar proveito de cada alimento na época certa. Os bichos, criados soltos e sem ração, eram usados integralmente, o que hoje se chama nose to tail, do focinho ao rabo.